transparente
na leveza
de qualquer alma
livre folha
(dís)pares
Pas de deux: dos olhares de Fernando Esselin e das palavras de Larissa Marques
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terça-feira, 6 de novembro de 2018
terça-feira, 30 de outubro de 2018
por tanto
há uma dor engasgada
em cada palavra posta
assim como quem nada quer
e deseja demais
sentado o cansaço teima em ficar
sobrecarregado de esperança
vã e tênue
vai
tão equivocado quanto qualquer coisa
o ver se arrasta nas frestas
de uma incompreensão terna
pende
o peso e a leveza se disfarçam
num antagonismo morno
a dúvida quase certa
é uma negativa do antes.
em cada palavra posta
assim como quem nada quer
e deseja demais
sentado o cansaço teima em ficar
sobrecarregado de esperança
vã e tênue
vai
tão equivocado quanto qualquer coisa
o ver se arrasta nas frestas
de uma incompreensão terna
pende
o peso e a leveza se disfarçam
num antagonismo morno
a dúvida quase certa
é uma negativa do antes.
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
estranho
voei por terras secas inabitadas
cruzei desertos sem fim
não olhe tão profundo
não há impunidade aqui
canto em voz doce as dores de outrora
para tirar o peso e voltar a voar sem rumo
e colocar terra de outras terras
no meio de minhas penas cansadas
sou dono de parte alguma
venho de muito longe
mais longe do que teu olho
possa alcançar
o longo voo é doloroso e desafia
é difícil alçar asas velhas depois do repouso
é necessário reaprender a viver e voar
recomeçar é preciso, sempre.
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vapor
o ar denso, morno, incansável
flutua sobre a criatura
dança dúbia a fumaça realidade
baila com o horizonte, sol e chuva
as crenças se desfazem poeira
os mitos bailam arco-íris
todos os sentimentos velhos
beijam o rio e se misturam no vento
as gotas cálidas voam quase vapor
ora bruma ora nuvem
na aceitação completa não há dor
ou sofrimento
num instante breve onde nada é palpável
uma única pergunta perdura
partimos do pressuposto da verdade
ou nos acalentaria mais a dúvida?
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quinta-feira, 26 de outubro de 2017
vertente
vem com o céu transportado
esse olho atravessado em um verso
onde todo culto se perdeu
de vícios de religião
derrama o torso cansado do dia
em minhas águas desesperadas
e chora de alegria e dor
meu caminho é amplo de paradas
festejemos em silêncio amoroso
a ausência de culpa e o resto de solidão
sobra pouco desse sal nos olhos
em tempos áridos e de tanto não
a pele e a terra se agitam sem fúria
num estado puro de amplitude
o revolver do pó em voltas lentas
perpetua brisa, correnteza num ritmo uno.
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terça-feira, 10 de outubro de 2017
oração
que caiam sobre mim todos os mantos
mesmo que em desordem visível
se joguem sobre essa carcaça
já dura como pedra ancestral
que roguem à dureza ingrata
que se acomode por outro lado
onde não me alcance ou me detenha
pois já cansei de luta e desisti da dor
o ser encantado e fresco renasce
e quer ir para onde o rio leva
mesmo que a desembocadura
seja num mar salgado como lágrimas
a quem?
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quarta-feira, 16 de julho de 2014
demasia
que era água, chuva, imersão
sem desertos, incertezas
que era raiz tronco
imensidão
que não é só a miséria e a fome
a míngua e a aversão
o excesso também mata
declina qualquer vão
de tanta luz a imagem some
a angústia do zelo cessa o tesão
a virtude de amor acata
o que a demasia joga ao chão
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segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Van Gogh
há quem queira justificar a falha
com o homem
há quem dite as cartas
ao telefone
há quem exija amar
sem fome
e há quem veja girassóis
sem saber o nome
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olhar vazio
quando em mim
suas imagens não se refletem
sou Narciso sem lago
sou a presença na ausência
luz onde não há escuridão
prendi meu olhar nos vultos
e eles cegos e omissos
desapareceram
como visões
em ciclos de loucura
onde hei de procurar
os mesmos olhos que me vêem
onde hei de encontrar
olhar assim tão vazio?
suas imagens não se refletem
sou Narciso sem lago
sou a presença na ausência
luz onde não há escuridão
prendi meu olhar nos vultos
e eles cegos e omissos
desapareceram
como visões
em ciclos de loucura
onde hei de procurar
os mesmos olhos que me vêem
onde hei de encontrar
olhar assim tão vazio?
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
caídos
vide olhos embotados
não os que Chico cantou
nem mais, nem menos
os que esmoreceram
sob aquele que emudeceu
vide sonhos caídos
talvez desbotados
vazios, acinzentados
enquanto o outro endurece
vide então, a sobra
o movimento nas pedras
que cantam, falam,
e por vezes, choram
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terça-feira, 12 de março de 2013
arrancou-me o olho esquerdo
sei que pedi para ficar só
e colocou a mão debaixo de meu soul
sei que arranquei seu pequeno coração
e seu olho de vidro só refletia o meu
eu já estava suja
ele não era lá essas coisas
mas sei que o fiz chorar
por um tempo transpirou-me Orfeu
nossos nomes eram sinônimos
só queríamos luxúria, caos e dor
roubamo-nos como era para ser
eu e ele, ele e eu
por fim, só por diversão
arrancou-me o olho esquerdo
deixou que apodrecesse
e me devolveu
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quanto
trago a chave da escuridão
cravada no peito
erros tatuados na pele
nada foi claro ou reluzente
durmo com dois olhos abertos
quero que diga meu nome
o sussurre quando estiver sozinho
quando nada puder ser feito
se quiser fugir para perto
me diz baixinho o que sobrou da gente
e não me venha de olhos fechados
que esperam beijos em pálpebras
nem com essas mãos delicadas
que tocam espectro de crenças
e sonhos com a vida passada
certeza é que nunca seremos transparentes
aquela que foi melhor pior noite
e talvez me esqueça dela
como me esqueci de tantas
pagou meu preço
e foi justo
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eterno velar
tocou-me com suas palavras
e seu hálito nefasto
incitou-me tormentas adormecidas
e as horas se esqueceram
do tempo e viraram prurido
apesar de tantas mortes por fumo
apesar de tantas dores sem prumo
perpetuamos essa saga mórbida
um velando o outro
o verbo permanece ferindo
meu silêncio quase falo de ruínas
quase sufoco ao ponderar no escuro
desde então vivo na fraqueza
desde então sou a miséria
espelhos queimando
um na fogueira do outro
pobres almas espelhadas
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012
e quantas vezes já pedi
para que não me olhe assim
com esse olhar inocente
que veste tanto carmim
é injusto cantar o hoje insistente
como quem olha a vida por um fio
como quem joga pedras impunemente
meu filho, eu sigo cego
quem dera fosse só a vida
quem dera não fosse o cílio do ego
e quantas vezes já pedi que permaneça
que seja sereno em suas escolhas
queria pedir: não cresça, não cresça!
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
avesso retrato
há quem me encontre
em grafites na Augusta
esperando por olhares
desapercebidos
há quem não espere
nada além de pinturas
turvas pela fuligem
tijolos tingidos
e entre flores negras
choro a angústia do meio
ganhando olhares
esquecidos
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quarta-feira, 10 de outubro de 2012
refletida
eu...
teimo no lado errado, tão certo
no traço torto, tão reto
numa angústia que anseia
sua mão e agrado
sentir de novo
o peito arfante
a falta de fôlego
e tudo emergido no silêncio
a quietude assustadora
eu...
perdida, querido
como estive por vezes e vezes
trocando-me por moeda fraca
amor por amor
ilusão por ilusão
uma vida ou dez
por qualquer toque
por qualquer noite
por um beijo
e que seja seu
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refletida
eu...
teimo no lado errado, tão certo
no traço torto, tão reto
numa angústia que anseia
sua mão e agrado
sentir de novo
o peito arfante
a falta de fôlego
e tudo emergido no silêncio
a quietude assustadora
eu...
perdida, querido
como estive por vezes e vezes
trocando-me por moeda fraca
amor por amor
ilusão por ilusão
uma vida ou dez
por qualquer toque
por qualquer noite
por um beijo
e que seja seu
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
a queda
foi mais alta
e dessa vez acreditei
que não ia me levantar
são as rasteiras da vida
e eu poderia dizer
pode me ajudar
pode me socorrer
pode me salvar?
mas o orgulho não é nulo
e de certo modo
me fez sangrar
sozinho e no escuro
quando perdi o controle
e a direção, não havia ninguém
não haviam olhos
nem orelhas pra me guiar
a queda foi brusca
e quis desistir
mas fixei-me no horizonte
e decidi seguir só.
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a sintaxe da realidade
agora, me diz o que decora
as torres doces de seu jardim
decola seus sonhos vastos no escruro
suas vagas proles no muro
mal as coisas se pronunciam
e já declinam sobre o real
deixam de ser
tento em vão perpetrar
mas é o fim que propago
é o fim
meus sentidos pedem a inércia
me enganam e morro pelo inimigo
o mais próximo que se diz amigo
que só me fere por ter entrado
pela porta da frente que eu abri
toma-me sem pedir o que a princípio
deveria ser apenas meu
e por fim aniquila-me sem morte
seja lenta ou honrosa
e as palavras se calam
todas
vi que mal preciso das palavras
antes muda e cega
para não interagir com esse mundo cão
se acho favo é mais que amargo
o diáfano da leveza pálida e viscosa
é mesmo o silêncio.
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a menina que semeava papoulas
jogava ao solo aqueles pontinhos pretos
como se fossem pontos finais
esperando milhões e milhões
de minúsculos recomeços
e sob visões de pupilas dilatadas
aquela criatura caminhava em campo aberto
o vento arrastava suas saias e ela se divertia
como uma besta fera sorria estridente
seus pés avermelhados pela terra
afundavam no morno que o sol deixava
e a vida dentro da própria vida era surreal
as sementes eram bombas sobre o chão arado
as mãos devotadas ao prazer despretensioso
do toque daquelas minúsculas cápsulas
refaziam incessantes os movimentos
de captura e liberdade suprema
mal sabiam da colheita.
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quinta-feira, 5 de abril de 2012
sombra amarela
doravante, cansado desiste
e mudo reluta contra o que foi
vê que seu sorriso abandonou formas
e já não adorna seu semblante
será que algo voltará a ser
como foi antes?
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domingo, 4 de dezembro de 2011
falsa letargia
a mesma luz que me cega
pode ser a que orienta
o meu carrasco maior
é o meu melhor olho
não sei de que doença sofro
e devo estar me curando
não creio em verdade alguma
e vivo procurando
etéreo é o mundo que me rege
são tantas lutas
tantas faltas e culpas
quem me ampara e sustenta?
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sábado, 29 de outubro de 2011
escarlate
enquanto todos os sonhos
se vão com o vento seco
e com as folhas avermelhadas
que parecem rir de bobagens
arrastadas junto com o pó
ela está ali convicta
imaginando que nada poderá
tirar a luxúria de seus olhos
que miram a vastidão horizontal
de um tempo tão ido, tão ido
pobre princesa rubra
assiste passiva sua imagem
espelhada em mil faces falsas
que gargalham entre si
e ela jura que é amor
queria voltar à inocência
que havia antes do vento
arrancar-me as folhas
antes das tempestades
levarem galhos e âmbar
rica princesa rubra
assiste passiva sua imagem
espelhada em mil faces de si
e gargalha entre imagens
e ela sabe que é amor.
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terça-feira, 12 de julho de 2011
é agora réstia
você, forasteiro próspero
sorri em minha tez
deixando supores
de minha epiderme
um tesão ocre
que reveste o hálito
e os lábios
de quem chora
O gosto da limalha
e da saudade
amarga a boca
antes beijada
atesta sem freio
esse poema obtuso
que reafirma a soma
de anseios e explora
sua audácia abriu sulcos
e liberou o glacial
da espinha ao córtex
fez-me nave vaga
declínio sob a mão
concreta e leve para tocar
uma resma, uma réstia
uma curva a me guiar
passo rumo ao parto
sutura e corte profano
pacto silencioso em gozo
da sua ilíaca e minha pele.
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quarta-feira, 29 de junho de 2011
da mansidão
declino nas noites
de não
estrago tudo tentando
acertar
e o tempo acaba
como as ampulhetas cegas
que cospem areia
impunemente
num passado próximo
viajei aos remansos
onde a calma se instalava
quando nosso querer
não era convulso
quando não abatia-me
o pulso
quando não tinha
o medo de errar
melhor seria
a ignorância
melhor não saber
da mansidão
que deitá-la
em seu ventre
e a desejar
constantemente
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sexta-feira, 10 de junho de 2011
abstrato
estou frágil e me engano
tantas são as cores
que pincelam a ilusão
que é fácil baixar a guarda
minha capital é caos
nalguma falésia sua
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terça-feira, 7 de junho de 2011
dorme,
e quando acorda nada diz
enquanto ela veste o manto negro
e sai
desce as escadas
sem olhar pra trás
tomada de algo novo
quase nocivo
rememora o caminho
de volta e ignora
a Constante Ramos
com a Barata Ribeiro
esquece suas unhas carmim
que defloraram o úbere
e as horas insones
sobre o dorso dele
dorme,
que foi só um sonho bom
e ela só levou-te a pele
sob suas unhas
e deixou gozo sobre seus ais
a mulher adormece deusa
e acorda puta
cata suas sombras
disformes, inodoras
e some
dorme,
e quando acordar nada diz
enquanto ele se cala sob o negro
e vai.
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
erva daninha
o triste é se adaptar
não querer ser como todos
ser o amor mórbido
desses que ferem e matam
amor-trepadeira
que no seu devaneio
seca e mata
o ser amado.
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segunda-feira, 7 de junho de 2010
quinta-feira, 18 de março de 2010
Sim
Chove uma tormenta dentro da
minha alma. Sou gente velha, gasta.
Andarilho maluco de pés de barro e
cabeça de copa em flor. Vivo a descer
rios oceânicos, assim miseravelmente,
como uma folha creme manga na enxurrada
ruas íngremes. Meu hálito é cravo e boemia.
Embriago-me de tudo, da beleza do mundo e da
ternura do amor. Mergulho nos bares, em filosofias
intermináveis, no que não foi realizado e tornou-se sonho.
E assim renasço puro em cada pessoa que toquei com minhas
palavras em vapor.
sexta-feira, 12 de março de 2010
dois dedos
até onde os mínimos
alcançarem
onde os máximos
encostem
do que me resta choro
esfrego chinelos
lavo muito os cabelos
por vezes esqueço as orelhas
e suspiros no banheiro
maybe
não seja necessário
se banhar tanto
a sujeira sacia o homem
baby
da superfície do whisky
à profundidade do drinque
duas pedras
dois dedos
medidas imediatas
do equivalente
alcançarem
onde os máximos
encostem
do que me resta choro
esfrego chinelos
lavo muito os cabelos
por vezes esqueço as orelhas
e suspiros no banheiro
maybe
não seja necessário
se banhar tanto
a sujeira sacia o homem
baby
da superfície do whisky
à profundidade do drinque
duas pedras
dois dedos
medidas imediatas
do equivalente
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quinta-feira, 11 de março de 2010
Com mãos de atiradeira
lanço meus olhos para
o céu hiante. É um mergulho
aquário sem vidro e sem ar.
Estar contido
É a alcunha do engano não
admitido. Nada nos têm. Somos
delicada manhã no orvalho espelhada.
Transparência ao ser e não existir
É preciso seguir...
Deitar meu sonho para sonhar
meus sonhos, pois tudo é
tão perfume, tudo é tão o que é.
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
canino I
Série Arcada
canino
I
mordedura revelada
sem ater-se à presa
ou à agonia
do olho dilacerado
quatro lâminas a se tocar
nas pontas afiadas saboreia
a devoção ao sangue
refestelada na língua
entrega-se aos recortes
miúdos e quase mudos
à dor alheia
à liberdade entre os dentes
e ao nocauteado resta a lona
os caninos cravados
na nervura da carne
do confete rubro no chão.
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a solidão não me aflige mais
esse estágio passageiro
de quando não me basto
vasto à sangria das horas fúteis
entregue à loucura do tempo
vivi o aconchego do estrangeiro
que se entrega ao banho amoroso
de um estar novo e febril
desenhei seus olhos famintos
e deleitei-me em elogios ao profano
mas ao me perceber só diante de mim
desisti da utopia do querer
não há dor maior que o amor
que nasce, goza e morre só
nuvem torpe que cega e chove
a vida me aflige mais
tormento constante de ser
mais um derrotado e ignorante
que crê firme na vitória com luta
e devota-se à paixão insana.
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domingo, 13 de dezembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
brusco tomou-me os sentidos, não esperava
não pediu nada além do que poderia
dois dias, três noites, é só o que lembrava
um falsete articulado, o que mais queria
ríamos dos outros, e atrevemos nós
sem demora, sem explicações, soltos
libertos de regras e roteiro, sós
para esquecer temeridades dos ocos
reencarnações, carmas, vidas previstas
em um quarto de utopias e sonhos de papel
olhos vidrados um noutro, torre de babel
perdões vendidos com flores por algum trocado
simulando de amores que poderiam estar ao lado
e em contrato nos perdemos, dores revistas.
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A ponta aguda da flecha reluz em prata.
Destino exato! Mãos desenhadas para o preciso.
O vento deveras perfumado brisa ao ser cortado
em sua invisibilidade. A folha cai com o movimento
e flutua como pluma até o chão molhado.
O arco faz papel de harpa na solidão.
Lança-se a seta e faz-se à música
minimalista do clérigo. Nota que mareja seus
olhos de águia no alvo infindo dentro de si.
O dia termina no recomeço da noite.
No ciclo de luz e estrelas que faz a tradição de
quem vive a procura de si mesmo!
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009
ensaio vermelho
canção tingida
encarnada boca rija
chicote ímpio
das esquerdas, de paixões
devassidões e taras
conjugar-te rubro
flameja-me escarlate.
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Mãos trêmulas anseiam o toque
Frias, laudatórias
Esboçam a insegurança do ser
Tardias, fracas, tentam a aproximação
Não se expõem, são furtivas,
Lascivas, num motim visceral e intenso
Não há compreensão nas mãos
Elas por si só são confusas
São farrapos corpóreos
Que não obedecem o consciente
Agonizam em sagas desejosas,
Atômicas, nauseantes, despudoradas,
Mãos sempre almejam algo secreto
Algo que faz doer o peito arfante
Trazem nos dedos a chaga poética
Uma aura desperta
Calada e inconformada,
Infelizes, as mãos ainda anseiam o toque.
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Segunda elegia
o homem perturbado
dialoga com a vida
e há quem diga
que é um baseado
ou que é heroína
mas ele encena
a luta diária
de se dar por nada, na perda
no movimento do outros.
o homem entende
com seus olhos invertidos
vê o que ninguém mais consegue
enxuga seus lábios tardios
enfastiados de agonia
para tentar ser feliz
vomita Euclides da Cunha
e drogas ilícitas
para se livrar das grades.
o homem interna-se
só há grades nos outros
no mundo e em si
no retrair do músculo
na tensa paz vazia
nas ocupações diárias
tenta ser livre
e solta seu verbo
na Jaceguaí.
o homem olha-se
e não vê-se completo
vê-se coagido e liberto
e dança parado
com a fumaça do fumo
e se vai com ela
como se fosse o único
a ver, a sentir, amar e perder
tudo que desejou na vida.
dialoga com a vida
e há quem diga
que é um baseado
ou que é heroína
mas ele encena
a luta diária
de se dar por nada, na perda
no movimento do outros.
o homem entende
com seus olhos invertidos
vê o que ninguém mais consegue
enxuga seus lábios tardios
enfastiados de agonia
para tentar ser feliz
vomita Euclides da Cunha
e drogas ilícitas
para se livrar das grades.
o homem interna-se
só há grades nos outros
no mundo e em si
no retrair do músculo
na tensa paz vazia
nas ocupações diárias
tenta ser livre
e solta seu verbo
na Jaceguaí.
o homem olha-se
e não vê-se completo
vê-se coagido e liberto
e dança parado
com a fumaça do fumo
e se vai com ela
como se fosse o único
a ver, a sentir, amar e perder
tudo que desejou na vida.
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terça-feira, 10 de novembro de 2009
caminho septado
em vias desativadas
de sonhos quebrados
por engano cognitivo
paisagem amorfa
derretida nos castiçais
em chama azul densa
de devaneios idílicos
o caminhante confuso
por vezes se perde
sem saber voltar
sem querer seguir
quer apenas contemplar
oculta estrada
entre o negro
e o nada
que desce
sem intenção
semântica
e se afoga
em quadros de Dali.
em vias desativadas
de sonhos quebrados
por engano cognitivo
paisagem amorfa
derretida nos castiçais
em chama azul densa
de devaneios idílicos
o caminhante confuso
por vezes se perde
sem saber voltar
sem querer seguir
quer apenas contemplar
oculta estrada
entre o negro
e o nada
que desce
sem intenção
semântica
e se afoga
em quadros de Dali.
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